Amadíssimos irmãos e irmãs, paz e bem em Jesus Cristo, que nos vem salvar.
Hoje celebramos o II Domingo do Advento. No Domingo findo, o Senhor exortou-nos à vigilância. Por três vezes apelou-nos insistentemente: vigiai, vigiai, vigiai para que na nossa vida nada nos impeça de acolher pronta e dignamente o Senhor que se vai encarnar e habitar no meio de nós. E, de facto, nos comprometemos a ficar vigilantes para que possamos estar atentos a tudo que nos possa distrair e nos afastar do Emanuel que vem morar connosco.
A liturgia da Palavra de hoje convida-nos a meditar sobre o tema da Conversão. O Segundo Domingo do Advento é marcado profundamente pelo convite à conversão. Este tema percorre as três leituras: «preparai no deserto o caminho do Senhor, aplanai na estepe uma estrada para o nosso Deus» […] (Is 40, 3); «Portanto, caríssimos, enquanto esperais estes acontecimentos, esmerai-vos para que Ele vos encontre imaculados, irrepreensíveis e em paz» (2d 3, 14); «uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. João Baptista apareceu no deserto a pregar um Baptismo de arrependimento para a remissão dos pecados» (Mc 1, 3-4).
O texto de Is 40, 1-5.9-11, cuja mensagem é continuada por João Baptista, situa-se no contexto do exílio do povo de Israel na Babilónia, onde o povo viveu todo o tipo de humilhação e opressão; o exílio significou para o povo de Israel, sofrimento, escravidão, perda de dignidade e perda de esperança numa vida melhor. Eis que surge Isaías com uma mensagem jamais aguardada de esperança e de profunda alegria, tendo em conta a vida penosa que viviam no exílio: «terminou a vossa escravidão» […] Olhai o Senhor Deus vem com força do seu braço dominador, vem com o preço da sua vitória e com a recompensa antecipada (Is 40, 2.10). Israel vai começar uma nova etapa da sua historia: liberdade, dignidade, bem-estar, adorar a Deus em espírito e verdade, autenticidade de vida, uma vida nova plena de alegria e felicidade. Mas para que isto aconteça, Israel deve dar passos decisivos de conversão. Porquê? Durante o tempo que Israel viveu no exílio da Babilonia aprendeu e praticou os costumes desviantes dos babilónios: idolatria, corrupção dos costumes, devassidão, indiferença, insensibilidade ao sofrimento alheio, injustiça, opressão, relativismo moral, arrogância, a ganância de acumular para si, se esquecendo do irmão, a vingança, aversão aos mandamentos de Javé. Israel deve fazer um corte radical com estas coisas. Israel tem de mudar de mentalidade e deve abandonar os caminhos antigos que ofendem a Deus: «Temei, portanto, o Senhor, e servi-O com toda a rectidão e verdade. Afastai esses deuses a quem os vossos pais serviram do outro lado do rio e do Egipto e servi o Senhor. […]. Eu e a minha casa serviremos o Senhor» (Js 24, 14). Quando Israel decidiu servir o Senhor seu Deus e obedecer à sua voz, entrou na terra prometida, terra de vida, vida plena, terra onde mana leite e mel. O povo sentiu a beleza e a doçura da vida, da paz e da alegria de viver em Deus e com Deus: o Emanuel, Deus connosco, o Deus libertador, o Salvador estava no seu seio. Deus perdoou os seus pecados e viveu com ele (Israel) para sempre.
Caríssimos irmãos e irmãs, a experiência do povo de Israel é a experiência de todo o cristão, é a experiência de cada um de nós, discípulo de Cristo. É um alerta para nós que muitas vezes nos deixamos levar por uma vida cristã ambígua e rejeitamos os insistentes apelos de Deus para que nos voltemos a ele e nos deixemos libertar de todas as coisas que ainda hoje nos escravizam. Hoje, muitos de nós ainda vivem em muitos exílios, sejam eles impostos ou por nossa escolha. Exílios impostos são aqueles nos quais somos obrigados a viver pelos poderosos do nosso tempo: levam nos a viver em situações infra-humanas, sem o mínimo para sobrevir, colocando-nos numa situação em que sacrificamos a moral para que possamos sobreviver! Mas também temos os exílios voluntários nos quais decidimos viver, buscando uma pretensa felicidade sem Deus e sem os outros!
Meus irmãos e minhas irmãs, se o Advento significou para o povo de Israel, recepção da feliz notícia da libertação do exílio da Babilonia, para nós significa a vinda do Messias, a Encarnacão de Deus, Deus que vem habitar entre nós, Deus que vem entrar nas nossas vidas. O Advento é para nós o tempo de preparação para o Natal. Como dizíamos no princípio, o II Domingo do Advento é caracterizado pelo insistente apelo de conversão: «preparai os caminhos do Senhor». Vivamos este Advento não como mais um Advento, mas como um caminho consciente de conversão pessoal e comunitária. Entre cada um de nós no deserto do seu coração para que descubra os exílios nos quais ainda vive, a fim de se libertar deles e dos perigos que oferecem; perigos que nos levam a viver uma vida cristã medíocre e nos afastam de Deus e dos irmãos. Durante a minha meditação, entrando no deserto da minha vida e da vida das nossas comunidades cristãs e da sociedade, descobri alguns exílios nos quais ainda vivemos e que nos podem impedir de celebrar dignamente o Santo Natal, se não nos afastarmos deles:
O exílio do pecado, muitos de nós vivem neste exílio, fazem do pecado algo normal, prazeroso e sem qualquer remorso. Vive em pecado, nunca confessa os seus pecados, mas todos os dias que vai à Missa comunga. Que tristeza! Também vivo assim? Perguntemo-nos, meus irmãos?
Outros vivem no exílio de uma vida cristã superficial, cristãos medíocres que vivem uma vida cristã sem Deus e sem Cristo, porque não meditam a Palavra de Deus para se alimentar dela e deixar-se transformar por ela e não vivem da Eucaristia, fazendo dela o centro e fim último da sua vida cristã. Sendo assim, também levam uma vida cristã sem compromisso com Deus nem com os irmãos. Vivem longe da Comunidade cristã e da missão da Igreja: Catequese, Movimentos Apostólicos e Obras de caridade não lhes dizem respeito. São daqueles que vivem na Igreja como numa casa de aluguer, diz o Papa Francisco. São cristãos cadáveres!
Que dizer de cristãos que vivem no exílio da ganancia e insensibilidade. Muitos cristãos na nossa sociedade vivem neste exílio. Exercem cargos de direcção e de gestão da coisa pública, buscam puramente e somente os seus interesses; firmam contratos com Estados e Organizações que levam ao endividamento eterno do país, satisfazendo interesses inconfessos, beneficiando um pequeno grupo de escolhidos e deixando a vida dos cidadãos numa situação de miséria jamais imaginada: as pessoas vão aos contentores de lixo procurar o que comer! O amor esfriou! Que tristeza! Eu vivo neste exílio? Perguntemo-nos!
Amados irmãos, estes e outros exílios devem ser banidos da nossa vida durante o Advento e para sempre! Não vivamos neles nunca mais. São perigosos e nos roubam a possibilidade de alcançar a vida eterna, pois, Deus não vive onde o pecado assentou as suas raízes; pecado e Deus, casamento impossível. Jesus Cristo não se compadece com cristãos superficiais e sem compromisso com Ele nem com a sua Igreja: «nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor entrará no reino dos céus» (Mt 7, 21-27). No último exílio Deus jamais habitará, porque ele não banqueteia com os opressores, gananciosos e insensíveis. Os avarentos não entrarão no Reino dos Céus!
Irmãos caríssimos, não deixemos de nos perguntar: em que exílio eu me encontro e do qual devo procurar sair durante este tempo de Advento, para chegar a cantar com muita alegria o Hino de Glória no Natal.
Enfim, meus irmãos e minhas irmãs, durante este Advento e em toda a nossa vida, façamos um caminho de inadiável conversão, rompamos com todos os exílios que não nos fazem ser autênticos filhos de Deus e discípulos de seu Filho, Jesus que nos vem salvar. Libertemo-nos, libertemo-nos, libertemo-nos de todos os exílios escravizadores e esmeremo-nos para que Ele nos encontre imaculados, irrepreensíveis e em paz.
Que Maria Santíssima, nossa boa Mãe, a Mãe do Verbo Incarnado, interceda por nós para que durante este Advento cada um de nós faça o seu caminho inadiável de conversão, afastando se de qualquer exílio que o possa prender e escravizar.
FELIZ NATAL A TODOS E UM ANO NOVO CHEIO DE ALEGRIA, PAZ E AMOR.