Decorreu de 1 a 5 de fevereiro de 2023, em Moçambique na cidade de Nampula, o XV Encontro de Bispos dos Países Lusófonos, em torno do tema “A Igreja e a construção da Paz”.
Participaram no encontro as delegações de:
- Angola, D. José Manuel Imbamba, Bispo de Saurimo e Presidente da Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé (CEAST), e D. Maurício Agostinho Camuto, Bispo de Caxito e Secretário-Geral da CEAST;
- Cabo-Verde, D. Ildo Fortes, Bispo do Mindelo que participou via on-line na sessão de partilha e troca de experiências;
- Moçambique, D. Inácio Saure, Arcebispo de Nampula e Presidente da Conferência Episcopal de Moçambique (CEM) e D. João Carlos Nunes, Arcebispo Coadjutor de Maputo, Vice-presidente da CEM;
- Portugal, D. Virgílio Antunes, Bispo de Coimbra e Vice-Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, e Jorge Líbano Monteiro, Presidente da Fundação Fé e Cooperação;
- S. Tomé e Príncipe, D. António Lungieki Pedro Bengui, Bispo-auxiliar de Luanda e administrador apostólico de São Tomé e Príncipe;
- Os participantes no Encontro, expressaram a sua oração e união com D. José Lampra Cá, Bispo auxiliar de Bissau ausente por razões de saúde, e com os Bispos do Brasil e Timor que não puderam estar presentes.
O Encontro decorreu num espírito de oração, em grande fraternidade entre todos os participantes, num desejo de partilha, aprendizagem-mútua e colaboração que permitiu atingir os objectivos que tinham sido definidos: Partilhar a realidade e futuro de cada Igreja, debatendo boas-práticas pastorais e organizacionais; Refletir sobre a construção da Paz. Uma reunião que responde ao espírito do processo sinodal em curso e ao convite do Papa Francisco “à unidade, à comunhão, à fraternidade que nasce de nos sentirmos abraçados pelo único amor de Deus”, (in discurso de abertura do Sínodo sobre a Sinodalidade).
Da reflexão efectuada destacamos as seguintes conclusões:
- A Igreja Católica nos países lusófonos (Bispos, Padres, Religiosas e Leigos), juntamente om muitos outros, tem desenvolvido uma intensa e relevante acção em favor da Paz, da reconciliação nacional e da união das sociedades de qualquer um dos países presentes. Uma acção discreta, que não deseja protagonismos, mas que é real, e não pode ser esquecida e apagada da história e do presente. Uma acção baseada no Amor de Cristo, que passa pela mediação de conflitos, pela caridade em milhares de missões e obras junto daqueles que mais necessitam e sofrem, na promoção da educação onde ela não existe, na promoção do papel da mulher, na promoção de uma cultura de amor, diálogo e encontro. A Igreja Católica é seguramente uma obra de Amor nos países lusófonos, e os Bispos presentes não podem deixar de fazer um reconhecimento público por esse legado de muitos, que continua nos dias de hoje.
- No entanto, esta é uma missão que nunca está concluída, e a realidade actual dos nossos países apela à presença e acção da Igreja que fala português, como construtora de Paz, como defensora da Dignidade de cada pessoa, afirmando de forma clara que todos somos Irmãos, filhos de um mesmo Deus com a mesma dignidade, e responsáveis uns pelos outros.
- Nesta construção da Paz, todos somos chamados a intervir e a dar o nosso contributo:
- Em primeiro lugar, vivendo em unidade e verdade de vida. A vida dividida não cria a paz interior. Não podemos ser “católicos ao domingo e pagãos à semana”, Não podemos servir a dois senhores Mt,6, 24. Quem acredita em Cristo, sabe que é n’Ele que pode confiar, que seguindo os Seus caminhos leva amor, verdade e justiça, a todas as realidades da sua vida. Este é o primeiro pilar na construção da paz.
- Num segundo passo a paz constrói-se pela procura do bem comum, daquilo que é o melhor para todos. Assim cada um de nós, é convidado na sua acção e influência (profissional, no bairro, ou no partido…) a intervir com competência na procura de soluções, não aceitando ser conivente com as injustiças, a mentira e não renegando os valores em que acredita e defende. A construção da paz pode também passar pela denúncia das injustiças, das situações que não dignificam os outros. Uma situação onde a Igreja quer continuar na linha da frente, dando voz a todos aqueles que não têm voz.
- A construção da paz implica também a capacidade de dialogar com todos, com todas as religiões, promovendo uma cultura de encontro, de maior conhecimento e confiança. A diferença não torna os outros nossos inimigos. A Paz não se faz contra ninguém, mas tem de incluir todos aqueles que a defendem e que não aceitam a guerra como via para a alcançar. A experiência de Moçambique e Guiné-Bissau, mostra que é possível uma convivência frutífera entre todas as religiões, em respeito e cooperação pelo bem de todos.
- A construção da paz implica finalmente de cada um, uma cultura de perdão e reconciliação, a consciência de que nem sempre fizemos o que estava certo, a consciência de que poderíamos fazer melhor. Um caminho que a Igreja também tem feito nesse processo coletivo de conhecer com verdade a sua realidade, pedindo perdão e mantendo viva a chama da conversão permanente.
- Apelamos especialmente a todos os que têm responsabilidade nos destinos dos nossos países, a que procurem incessantemente a Paz, não só lutando pelo fim da guerra das armas, mas continuando a promover a reconciliação de todos os cidadãos, nomeadamente:
- Combatendo a injustiça social, que agrava o fosso entre os mais ricos e os mais pobres, negando a milhões de pessoas o acesso ao desenvolvimento que é caminho para a construção da paz;
- Combatendo a mentira, a corrupção, o “compadrio” e o “amiguismo” que destrói o valor da verdade, mina a credibilidade das lideranças e das Instituições e rouba os meios para o desenvolvimento económico e humano;
- Combatendo a partidarização da sociedade, que leva a valorizar mais a filiação partidária do que o mérito individual de cada cidadão, os interesses do partido em vez do país, retirando a esperança e a confiança no valor do trabalho honesto, e polarizando a sociedade, em vez de criar uma cultura de encontro e diálogo;
- No âmbito desta reflexão, lembrámos as guerras em curso que atormentam a vida e ferem a dignidade de milhões de pessoas em diferentes regiões do mundo, especialmente em África e na Europa. Rezamos pelos povos, apelamos aos líderes a coragem de suspenderem as armas e encetarem o diálogo para a edificação da paz. Manifestamos, em particular, a nossa profunda dor e solidariedade para com o povo de Cabo Delgado que, desde 2017, tem sido vítima de bárbaros atos de violência. Condenamos veementemente tais atos, e exortamos a comunidade internacional a não esquecer esta guerra, e a ativar um plano de emergência para a ajuda aos deslocados;
- Manifestamos a nossa alegria e comunhão pela realização da Jornada Mundial da Juventude 2023 em Lisboa – Portugal, que contará com a presença de jovens de todos as Igrejas dos países lusófonos;
- Sobre o futuro destes Encontros, os participantes entenderam:
- Reforçar o empenho e compromisso de cada Igreja neste espaço de partilha e colaboração entre os Bispos Lusófonos, não apenas durante a realização dos Encontros, mas também no desenvolvimento de ligações mais permanentes, quer ao nível da comunicação, quer ao nível da realização de programas comuns, por exemplo no âmbito da construção da paz e do diálogo inter-religioso e ecuménico.
- Realizar o XVI Encontro de Bispos dos Países Lusófonos em Portugal, de 2 a 6 de fevereiro de 2025.
- Para além das reflexões mantidas entre os Bispos participantes no Encontro, destacamos as seguintes actividades realizadas e que permitiram enquadrar e consolidar as reflexões:
- A sessão pública de abertura, presidida por D. Inácio Saure, realizada na Universidade Católica de Moçambique em Nampula e que contou com a presença das autoridades locais: Secretário de Estado da Província, Governador Provincial e o Presidente do Conselho Municipal. Uma nota de agradecimento também ao Director da Faculdade de Educação e Comunicação;
- A conferência pública sobre “A Igreja e a construção da Paz” realizada na Universidade Católica de Moçambique em Nampula e que contou com intervenções de D. Virgílio Antunes, D. José Imbamba e o Prof. Salvador Forquilha, que foram muito relevantes para a reflexão de todos e para o debate dos Bispos presentes neste Encontro;
- O encontro na Ilha de Moçambique, onde fomos acolhidos pela comunidade Diocesana de Nacala (D. Alberto Vera Aréjula, Bispo de Nacala, o Pároco da Ilha de Moçambique, as Irmãs Franciscanas da Purificação) e as autoridades locais. Destaque também para a visita ao Palácio de São Paulo, onde pudemos conhecer melhor a história de Moçambique.
- O Encontro no Seminário Inter-diocesano São Carlos Lwanga, em Nampula, com os alunos do propedêutico e de filosofia. Um momento de grande emoção e alegria pelo acolhimento e pelo que estes seminaristas representam para o futuro da Igreja Moçambicana;
- A visita ao centro de deslocados de guerra de Rapale, onde vivem cerca de 900 famílias deslocadas de Cabo-Delgado, mostrou de forma cabal o drama, real e diário, de muitos que são afectados pela Guerra;
- A celebração eucarística de encerramento na Catedral de Nampula, no qual rezámos em conjunto com toda a comunidade pela paz e em acção de graças pela realização deste Encontro. Bem como o encontro com os religiosos que encerrou o Encontro.
Agradecemos ao Senhor D. Inácio Saude, Arcebispo de Nampula, e aos seus colaboradores, em especial ao Pe. António Canera o fraterno acolhimento dado a todos os participantes, e o facto de ter criado todas as condições necessárias para a realização deste XV Encontro.
Um agradecimento também às comunidades e instituições eclesiais e civis que nos acolheram de modo tão fraterno e à “Rádio e Televisão Encontro” de Nampula pela excelente cobertura que fez, a qual possibilitou o acompanhamento do Encontro nos nossos países.