V DOMINGO COMUM DO ANO A
1L Is 58,7-10, 2L 1 Cor 2,1-5; Ev Mt 5,13-16
A Liturgia da Palavra deste Quinto Domngo do Tempo Comum do ciclo litúrgico A, convida a todos os crentes em Jesus Cristo e a todos os homens de boa vontade, por um lado, à prática da caridade, cultivo da fraternidade e a superação da indiferença perante o próximo em necessidade. Por outro lado exorta à virtude da humildade e simplicidade, só assim é que se pode ser sal da terra e luz do mundo.
Para ambos casos o primeiro a fazê-lo foi o próprio Deus que sacrificou o seu próprio e unigénito Filho para o bem da humanidade, praticando a partilha de si mesmo, pois a Incarnação do Verbo, é Deus que quer partilhar a sua própria divindade com o homem. É Deus que se abaixa para que o homem seja elevado. Diria Ireneu de Lião, que Deus se fez homem para que o homem seja Deus, isto é, que este último entre no mundo de Deus. É um grande gesto de promoção do homem.
A caridade tem como motivação a partilha dos dons a disposição e se outro estiver a passar necessidades, que sozinho não pode superar, é para tirá-lo da tal situação para uma situação relativamente melhor. É este o espírito que deveria orientar as relações entre os cristãos e em última estância de todos o género humano. Infelizmente o que se verifica em algumas pessoas e incluindo cristãos é o egoismo. Que consiste em estar virado só para o próprio umbigo e havendo casos em que se procura melhorar a própria condição à custa do outro. O Papa Francisco é muito forte contra essa atitude na sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho), onde condena a economia da exclusão e denuncia a globalização da indiferença. E segundo o Papa é esta desigualdade social que gera a violência. De facto é duro passar privações ao lado de quem tem e até em excesso e deita comida no lixo.
Países com recursos naturais são um exemplo emblemático desse desvario social ou o enriquecer às custas do outro. Quantas populações vivendo em zonas com recursos não são sacrificadas, são forçadas a viver em terras que não lhe podem prover o necessário para a vida? O Papa Francisco deu o seu grito forte na sua recente visita a República Democrática de Congo apelando indirectamente os poderosos a libertar a África para que esta cuide dos seus destinos. Está o Santo Padre a condenar precisamente o espirito de acumular ou melhorar a própria condição em detrimento e às vezes prejudicando o outro.
Toda a acção evangelizadora de Jesus, durante a sua vida pública, foi em prol do outro. A sua pregação visava sempre a promoção do homem. Os seus milagres eram para mitigar ou mesmo eliminar o sofrimento do outro. Foi certamente com este espírito que antes que chegasse a sua hora, de acordo com as suas plavras, transformou água em vinho nas bodas de Canaã para que alegria do jovem casal não ficasse afectada e não experimentasse a humilhação. Para Deus, o foco é sempre o bem do próximo, porque alegria de Deus é o bem estar de todos os seus filhos. A intervenção de Maria, nas mesmas bodas, também é motivada pelo mesmo espírito, o de querer ver o outro bem.
Não é típico de cristão ficar indiferente perante o sofrimento do próximo e é ainda mais grave alegrar-se com o sofrimento dele.
No que tange à virtude da humildade e simplicidade, nosso Senhor Jesus Cristo é modelo acabdo. A sua própria incarnação não é outra coisa senão mesmo gesto de humildade. Porque é Deus que abandona o mundo superior, a sua majestade e conforto para o mundo inferior com tantos desafios. O assumir a carne humana no seio da virgem Maria e fazer experiência da realidade humana incluindo suas limitações é grande gesto de humildade.
Ele nasceu numa gruta de animais e não numa grande clinica ou na hospedaria de 5 estrelas. Durante o seu ministério publico privilegiou e esteve sempre com os pobres e elogiou os que têm espírito de pobreza e os que são como as crianças, sem dúvida exaltando a virtude da simplicidade. Ele falava o que vivia. O disse em algumaa parte que as raposas têm tocas e os passarinhos ninhos, mas o Filho do homem nem tem onde reclinar a cabeça. Ele se reclinava onde fosse possivel para poder trabalhar sem se preocupar com o conforto.
Hoje em dia, em alguns quadrantes do mundo, a pessoa é tratada de acordo com a sua condição social, se não tiver um grau académico, julgado relevante, corre o risco de não ser escutada mesmo apresentando um pensamento muito valioso, pior ainda se o seu poder económico for limitado. Portanto, as relações não são mais guiadas pelo facto de sermos todos criados à imagem e semelhança de Deus, portanto, gozando da mesma dignidade.
Portanto, a litugia da palavra neste domingo urge a nós os cristãos a renovarmos o compromisso que assumimos no baptismo, o de ser sal da terra e luz do mundo, como exorta o evangelho. Para tal, temos de remar contra a mar. Não percamos de vista o nosso ser sal da terra para dar sabor a vida da humanidade e incomodar os doentes em várias dimensões, a exemplo do sal que não faz bem a quem é hipertenso. Ser luz da sociedade que incomoda os filhos das trevas, a exemplo de ladrões que quanto mais densa a escuridão, melhor. Se ficarmos distraídos ou acomodados corremos o risco de sermos fermentados pelo virus do egoismo, ganância, corrupção e seus erivados, atrasando assim a construção de uma sociedade onde somos todos irmãos, segundo a Fratelli Tutti do Papa Francisco.