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Hospitalidade

P. Correia Hilário, Luanda-Angola
XVI Domingo do Tempo Comum, 17 de Julho de 2022

Amados irmãos e irmãs em Cristo Jesus, a paz esteja convosco!

A Igreja celebra hoje o XVI Domingo do Tempo Comum, com a tónica da hospitalidade que nos torna verdadeiros discípulos e discípulas missionários de Jesus. Numa altura em que a Conferência Episcopal de Angola e São Tomé – CEAST encontra-se reunida na sua II Assembleia Anual, de 14 a 21 de Julho de 2022, na qual abordam assuntos religiosos e sociais, enquanto Angola caminha para as Eleições Gerais em 24 de Agosto deste ano. Mas também o País chora a morte de seu ex-Presidente José Eduardo dos Santos, falecido a 08 de Julho deste ano em Barcelona, Reino da Espanha, vítima de uma prolongada doença.

Comentando agora os textos sagrados, na Primeira Leitura (Gen 18, 1-10a) vemos Abraão sentado à entrada da sua tenda, no maior calor do dia (v.1b), não é hora de visitas, mas de descanso à sombra. Porém, ao ver três homens passando ao lado da sua tenda, corre-lhes ao encontro, prostra-se por terra diante deles e os convida a ficar por alguns instantes em sua casa (tenda) como seus hóspedes. “Meu Senhor, se agradei aos vossos olhos, não continueis a viagem sem parar em casa do vosso servo” (v.3). A hospitalidade de Abraão mereceu-lhe acolher em sua casa o próprio Deus, e d’Ele ouvir a promessa de um filho, que viria a ser o mensageiro das promessas e da aliança de Deus ao seu povo. Também se pode dizer que, a hospitalidade de Abraão é, ao mesmo tempo, sinal de caridade, de amor, confiança e esperança. “Passarei novamente pela tua casa daqui a um ano e então Sara tua esposa terá um filho” (v.10a).

Hoje em dia, há muita falta de hospitalidade. Nem sempre as pessoas são solidárias, são generosas, são capazes de se compadecer ao sofrimento, à fome ou à miséria do outro. Infelizmente a falta de atenção ao próximo, a falta de acção pastoral faz com que percamos os benefícios que vêem da generosidade de Deus.

A Segunda Leitura (Col 1, 24-28) apresenta-nos o Apóstolo Paulo que, apesar de escrever da prisão, ele exulta de alegria ao ver como Cristo é conhecido entre os pagãos e os leva a penetrarem no mistério do qual Cristo é a definitiva revelação do rosto da divina misericórdia de Deus. Cristo Jesus é o mistério oculto ao longo dos séculos e agora manifestado à humanidade. E esse mistério (Cristo) lhe trouxe prisões, humilhações, torturas, zombarias, calúnias e difamações, sofrimento sem conta. Tudo isso que Paulo passou faz dele um homem mais próximo de Jesus e de sua paixão: “Vou completando na minha própria carne o que falta aos sofrimentos de Cristo em favor do seu corpo, que é a Igreja” (v.24).

São Paulo é o modelo de pregador, de anunciador do Evangelho que precisamos no nosso tempo. Uma pessoa que não se faz de vítima por causa das perseguições e dificuldades, mas vê e lê os sinais dos tempos à luz da paixão de Cristo. Paulo é uma pessoa que não busca interesses particulares, mas preocupado com a construção de uma comunidade cristã unida no amor e no perdão. Alguém que coloca à disposição da comunidade os seus talentos, seus recursos, a sua vida a serviço da Palavra de Deus. Com ele e por ele as comunidades cristãs ampliaram seus horizontes, abrindo-se aos gentios, aos não judeus, entre os quais se encontram os Colossenses. É esse tipo de pregador que o mundo precisa hoje, porque há muitos pastores charlatães e oportunistas que andam mais preocupados com o que se coloca no balaio, no cesto (ofertas) do que com o anúncio do Evangelho e a salvação das almas.

Já no santo Evangelho (Lc 10,38-42) encontramos duas irmãs, Maria e Marta que acolhem o Mestre em sua casa. É interessante que Lucas apresenta-nos um Jesus sem os discípulos (homens). Talvez se tratasse de uma visita familiar, privada de Jesus àquelas mulheres, suas amigas.

Marta acolhe o Senhor e está atarefada em servi-lo; enquanto, Maria coloca-se à escuta da palavra do Mestre. O que Abraão ouviu da boca do estranho peregrino, escuta-o Marta da boca do próprio Filho de Deus. O Senhor é o mesmo que, repetidas vezes, nos visita e quer permanecer em nossa casa. Tal como Abraão empenhou-se bastante com seu servo em acolher bem os hóspedes, aqui também as duas irmãs estão fazendo tudo para agradar o hóspede, dar-lhe a melhor hospitalidade possível, talvez, para que o mesmo volte sempre em sua casa. Porém, há algo que chama aqui a nossa atenção! No tempo de Jesus, as mulheres não podiam sentar-se aos pés de um rabino (Mestre) para escutar seus ensinamentos. Neste episódio, Jesus quebra esse preconceito contra as mulheres. Por isso aceita Maria aos seus pés a escutá-Lo. Portanto, com esse gesto, Jesus acolhe entre os discípulos, as discípulas, isto é, as mulheres que, no Evangelho de hoje, representam a vida contemplativa (Maria) e a vida activa (Marta) justamente para a harmonia na acção missionária da Igreja peregrina rumo à pátria celeste.

Que possamos conciliar as duas realidades comunitárias de vida contemplativa e de vida activa “Ad Maiorem Dei Gloriam”.

Pe. Correia Hilário