Reflexão dominical – Comentários para IMBISA
IV Domingo da Quaresma, 27 de Março de 2022
Domingo Laetare
Caríssimos e irmãos e irmãs em Cristo Jesus,
A paz esteja convosco!
Estamos a celebrar o IV Domingo do Tempo Quaresmal, o Domingo chamado Laetare, numa altura em que o mundo vive tempos difíceis de paz, com a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Uma guerra que trouxe para a humanidade uma “quaresma” imposta pela situação de insegurança social, de exploração e violação dos direitos humanos nos seus variados sentidos à Ucrânia e aos países vizinhos. Porque onde há guerra, não há respeito pela vida humana. Por isso é que o Papa Francisco convidou o mundo católico a rezar com ele na Sexta-feira passada, 25 de Março, consagrando a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração da Virgem Santa Maria, para a paz na Ucrânia.
Agora comentando os textos sagrados deste Domingo Laetare, dia das rosas em Roma e dia de alegria no meio da penitência que dá a nota deste tempo forte de jejum, de conversão, da prática da caridade e da mudança de vida, a liturgia de hoje permite o uso da cor Rosa das vestes talares.
A Primeira Leitura (cf. Js 5,9a.10-12) nos apresenta os israelitas que se alimentam com pão novo, da Terra Prometida. Entrar na Terra Prometida foi mais do que uma façanha militar; foi a entrada na vocação específica do “povo de Deus”. O tempo anterior era escravidão, vergonha (5,9). Agora, começa uma realidade nova, celebrada pelo pão novo (ázimo): os israelitas recebem a pátria prometida aos pais e viverão nela enquanto ficarem fiéis ao Deus da Promessa. Alimentar-se com o trigo de Caná é um sinal da eficácia da Aliança. O rito da circuncisão, destinado a todos “os que nasceram no deserto, durante a viagem, depois do êxodo” (Js 5,5), terminou e todos fazem, agora, parte do Povo de Deus. É um Povo renovado, que dessa forma reafirmou a sua ligação ao Deus da Aliança. O rito levado a cabo por Josué faz-nos pensar numa espécie de “conversão” colectiva, que põe um ponto final no “opróbrio do Egipto” e assinala um “tempo novo” para o Povo de Deus.
Portanto, o tema central deste texto gira à volta da vida nova que começa para o Povo de Deus. A Páscoa, celebrada nessa terra livre, marca o início dessa nova etapa. Israel é, agora, um Povo novo, o Povo eleito, comprometido com Deus, definitivamente livre da escravidão, que inicia uma vida nova nessa Terra de Deus onde “corre leite e mel”.
A Segunda Leitura (cf. 2Cor 5,17-21) nos ajuda a penetrar no sentido das palavras: estava morto e voltou a viver; o que estava perdido, foi encontrado. A reconciliação em Cristo é uma nova criação. O velho passou, tudo é novo. A vergonha de nosso pecado é apagada. Deus mesmo tornou sacrifício pelo nosso pecado. Seu filho que não conheceu o pecado para que nós fossemos sem pecado. Nestas palavras, percebemos um eco da primeira leitura: assim como Israel, no fim do êxodo da escravidão, celebrou, já na Terra Prometida, onde corre leite e mel, a sua passagem com o pão novo, sem o velho fermento, agora tudo é novo em Cristo Senhor. São Paulo nos apresenta o mistério da reconciliação – Deus nos fez homens e mulheres novos: Paulo o experimentou em sua própria vida. A “Palavra da Reconciliação” modifica radicalmente a condição humana. Somos regenerados, recriados. O Apóstolo das gentes quer que todos participem desta reconciliação, já que ela custou bastante: Deus fez seu Filho participar da consequência do pecado, para que nós participássemos de sua justiça.
Já no santo Evangelho Jesus acolhe os pecadores (cf. Lc 15,1-3.11-32). Jesus vai na casa dos pecadores. Jesus conversa com os pecadores. Jesus toma refeição na casa dos pecadores. Ele não os julga nem os condena, mas os convida ao arrependimento, à mudança de atitudes e de vida.
Jesus escolheu pecadores públicos para serem os seus discípulos, ou seja, os seus preferidos: Pedro e André, Tiago e João. E, mais do que isso, Mateus era publicano, isto é, cobrador de impostos. Mas qual é o critério de Jesus para estar, falar e comer com os pecadores públicos? O critério é o mesmo do pai do filho pródigo: agir com o pecador com misericórdia, com coração generoso, acolhendo as suas misérias, procurando curar seus pecados e doenças espirituais e caminhar para a vida da graça de Deus. O amor do Pai é um amor que respeita absolutamente as decisões – mesmo absurdas – desse filho que abandona a casa paterna; um amor que está sempre lá, fiel, preparado para abraçar o filho que volta sem guardar rancor. Repare-se: mesmo antes de o filho falar e mostrar o seu arrependimento, o Pai manifesta-lhe o seu amor. Uma atitude de um pai bondoso e misericordioso que esperava o regresso do filho à casa.
Neste domingo da alegria, cabe destacar esse aspecto da fé cristã e aproveitar as leituras para proclamar que Deus se alegra connosco, como o pai da parábola. Muitas vezes, o discurso cristão se fixa nas exigências e na severidade, esquecendo-se da beleza e do júbilo – valores estes que não são pretexto para descompromissos. Celebremos com alegria a misericórdia de Deus por nós todos e não nos fechemos, enciumados ou preocupados com tantas tarefas, ou preocupados em ninharias. A festa é disposta a quem deseja se saciar do corpo e sangue de Cristo.
Pensemos nos que sofrem com a guerra na Ucrânia e em outras partes do mundo com as calamidades e desastres naturais. A seca e a fome no Sul de Angola, a guerra no Cabo Delgado, em Moçambique; e daqueles que perderam tudo por causa das chuvas torrenciais dos últimos dias. Para não falar da pandemia COVID-19 que trouxe todo tipo de desgraças às famílias que já tinham uma vida organizada. São estes e outros carentes que o Senhor nos pede servir.
Somos, queridos irmãos e irmãs, convidados, neste tempo favorável de Quaresma, a uma “renúncia quaresmal” em favor dos mais necessitados das nossas comunidades paroquiais. Não precisamos sair do lugar onde trabalhamos para sabermos que há miséria, há fome no mundo. Que sejamos mais generosos e atentos aos que mais precisam da nossa ajuda.
Desejo a todos um santo domingo abençoado por Deus!
Pe. Correia Hilário