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O toque do Messias: «Levantai-vos e não temais» (Mt 17,7)

FESTA DA TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR
Leituras do dia: Dan 7,9-10.13-14; Salmo 96 (97); 2 Pedro 1,16-19; Mt 17,1-9

O toque do Messias: «Levantai-vos e não temais» (Mt 17,7)

Nas leituras da festa da Transfiguração do Senhor abundam expressões referentes aos sentidos: visão – «Estava eu a olhar […]» (Dan 7,9); «Erguendo os olhos, eles não viram mais ninguém, senão Jesus» (Mt 17,8); audição – «Nós ouvimos esta voz vinda do céu […]» (2 Pedro 1,18); «Ao ouvirem estas palavras […]» (Mt 17,6) e tacto – «Jesus tocou-lhes […]» (Mt 17,7).
Estas expressões são recorrentes sobretudo nos evangelhos, onde a visão e a audição constituem o objeto dos milagres realizados por Jesus (com nuances espirituais), ao passo que o tacto é o meio através do qual ele cura.
Diante do assombroso espetáculo da transfiguração de Jesus, Pedro e seus companheiros experimentam a beleza do esplendor messiânico que antecipa a ressurreição, mas sem compreender. De facto, o relato da transfiguração é antecedido pelo ensinamento sobre a identidade e missão de Jesus e pela instrução sobre as atitudes próprias do discípulo, convidado a renunciar a si mesmo, a tomar a sua cruz e a seguir Jesus no caminho do seu sacrifício supremo (cf. Mt 16,13-28). Os discípulos ainda não perceberam esta lição e nem têm noção do significado da sua sequela.
A versão de São Lucas diz que «Pedro e os companheiros estavam a cair de sono». Isto revela, na verdade, o quanto a visão dos discípulos está longe de enxergar a novidade messiânica. Ligada à suas próprias fantasias e limitada ao aspeto exterior das coisas, a visão dos discípulos precisa de ser corrigida.
Pedro, na sua ingenuidade, faz uma precipitada proposição: «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias». Todavia, a voz vinda do céu agrava o clima dos discípulos quando a beleza do espetáculo é substituída pelo medo. Já não podem mais levantar os olhos para contemplar o fenómeno e nem parece haver espaço para construir tendas. Ao invés, colocam a cabeça por terra como um avestruz aflito. Mas é urgente que os discípulos desçam da montanha, pois não basta ser beneficiários de tão esplêndida revelação, é preciso fazê-la conhecer aos demais. E isso não acontece senão com o toque do Messias.
Então Jesus tocou-lhes dizendo: «Levantai-vos e não temais» (Mt 17,7). Só Mateus é que fala deste toque. É o mesmo toque com o qual Jesus curou o leproso (Mt 8,3), a sogra de Pedro (Mt 8,15), os dois cegos (Mt 9,29), o surdo-mudo (Mc 7,33) e tantos outros enfermos.
O toque do Messias retifica os sentidos dos discípulos que doravante tornam-se audazes testemunhas do evento de Cristo, realidade que se faz efetiva após a ressurreição.
Este toque é também destinado a cada um de nós, a fim de podermos assimilar corretamente a identidade de Jesus para melhor colaborarmos no seu projeto messiânico. É um toque que nos convida a «descer da montanha», a sair do comodismo das nossas tendas e esconderijos para testemunhar ao mundo que a realização plena de uma vida consiste no dom de si. O toque do Messias nos liberta do medo e das nossas pretensões fantasiosas; nos abre os olhos e os ouvidos para melhor ler e interpretar os sinais dos tempos, como diz Papa Francisco: «Precisamos de outro olhar, de uma luz que ilumine profundamente o mistério da vida e nos ajude a superar os nossos esquemas e os critérios deste mundo […]» (Angelus de 28 de fevereiro de 2021). O toque do Messias nos estimula a anunciar Cristo com entusiasmo e determinação através do nosso compromisso na edificação de uma sociedade mais humana.